OPINIÃO: O CENÁRIO DO BRASIL PÓS BOLSONARO

Publicado em 23/08/2021 às 10:44 por Redação
Por: Matheus Augusto Braga Peixoto

Se as coisas estão ruins com a gestão do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, temo em dizer que elas estão distantes de melhorarem — mesmo depois da queda ou não reeleição de Bolsonaro. Bolsonaro passará, mas seu péssimo legado e discípulos continuarão.

A verdade é que, nos últimos anos, pudemos enxergar uma escalada assustadora do neofascismo e neonazismo no Brasil. Discursos de ódio foram legitimados pelo chefe do Poder Executivo federal e foi nesse momento que as coisas começaram a desandar. O problema não é termos um presidente de direita, mas sim termos um presidente de direita que flerta, diariamente, com a extrema-direita.

Tudo isso ainda não fez muito sentido para você? Então vamos analisar alguns fatos, sem nos apegar à ordem cronológica, no entanto. E se, na verdade, já tiver feito sentido para você que está lendo, continue por aqui mesmo assim.

Vamos começar pelo voto impresso (risos). É sério, que loucura golpista foi essa de voto impresso? Tudo bem, eu entendo o Bolsonaro querer empurrar o voto impresso de qualquer forma, ameaçando, inclusive, não realizar as eleições do ano que vem, que certamente servirão para tirá-lo no poder — caso não caia antes.

A obsessão de Jair pelo voto impresso não é porque ele acredita fielmente em sua segurança, diferentemente da urna eletrônica, cujas fraudes por ele sustentadas não foram sequer provadas. A obsessão de Jair pelo voto impresso é porque seria, na verdade, mais fácil de fraudar. Isso não é surpresa para quem tem mais de dois neurônios em perfeita atividade.

O que eu não entendo é como parte da população, seu fiel gado, compraram essa narrativa totalmente infundada e facilmente descredibilizada.

Bolsonaro poderia, tranquilamente, ser o tirano de algum romance distópico, onde a população simplesmente aceita o que ele diz, sem questionar, sem perceber a fragilidade dos argumentos e ainda tratando o que foi dito como verdade absoluta. Infelizmente é isso o que ocorre na cabeça de alguns que continuam cegos pelo bolsonarismo.

E qual o prejuízo disso para o futuro?

Bom, não será a derrota de Bolsonaro que tirará o voto impresso da cabeça de seus fãs, muito pelo contrário. Ainda seremos muito atormentados pelos bolsonaristas mais fanáticos, que farão de tudo para defender seu ditador favorito e descredibilizar as eleições de 2022. Não aceitarão a derrota e gritarão a todo o Brasil que as urnas eletrônicas foram fraudadas. Sem provas, no entanto.

Eu só queria ter a metade dessa autoestima.

Em segundo lugar, vejamos a situação ambiental e a péssima herança que será deixada por Ricardo Salles e pelo Governo Federal. Eles passaram a boiada, como pretendiam, e, mesmo com a ausência de Salles na pasta ambiental, continuam passando. Fruto desse verdadeiro caos instalado pelo Governo Bolsonaro no Ministério do Meio Ambiente, houve forte e rápida redução de servidores nos principais órgãos ambientais de fiscalização, como Ibama e ICMBio. Essa redução também ocorreu dentro do próprio Ministério. Como se isso não bastasse, os órgãos fiscalizadores perderam capacidade de fiscalização. O Ibama, por exemplo, nos dois primeiros anos de gestão do atual presidente, teve sua capacidade de fiscalizar e de aplicar multas drasticamente diminuídas. E claro que isso não foi em vão. Na verdade, foi nesse mesmo momento que houve uma aceleração do desmatamento e aumento de incêndios na Amazônia e no Pantanal.

Se engana aquele que acha que Bolsonaro faz algo sem motivo. E seu motivo é bem claro: destruir o Brasil de todas as formas possíveis. O grande atraso promovido nas questões ambientais que interessam o Brasil não será resolvido logo após a saída de Bolsonaro do Palácio do Planalto. As relações internacionais continuarão afetadas e a ajuda financeira, também internacional, continuará distante de nós. A solução para essa enorme dor de cabeça virá muito tempo depois da despedida de Jair. Sei que são inúmeros os fatos que poderiam ser analisados, mas vejamos, por último, todo o preconceito e discurso de ódio que vem aumentando cada vez mais nos últimos anos, fruto de uma legitimação por parte do presidente.

“Ora, se o presidente é racista, machista, misógino e LGBTfóbico, eu também posso ser”. Quem poderia se opor caso algum bolsonarista tentasse justificar o injustificável dessa forma?

O que se espera da autoridade máxima de um país é, no mínimo, respeito e decência, coisas que parecem faltar a Jair Bolsonaro, contaminando inúmeros cidadãos com a mesma doença da intolerância. Repito: Bolsonaro passará, mas seus discípulos continuarão.

Depois de legitimar todos esses absurdos, para dizer o mínimo, não será o fato de Jair não ser mais presidente que extinguirá isso do nosso cotidiano. O estrago foi feito, infelizmente, e agora as pessoas já não têm mais medo de cometerem crimes de ódio, que, infelizmente, quase sempre são entendidos pelas autoridades como um simples crime contra a honra. Essa impunidade sempre existiu, mas também está estritamente ligada ao bolsonarismo, uma vez que muitos de seus fiéis discípulos ocupam posições de autoridade.

O cenário do Brasil pós Bolsonaro é tão ruim quanto ao cenário do Brasil ainda sob a gestão de Bolsonaro.

E o que eu quero dizer com essas pequenas linhas que escrevi?

Não importa o que aconteça com o (seu) presidente, ele continuará por aqui, por muito tempo, de maneiras inimagináveis, para nos tirar a paz e a vontade de viver. Será necessária uma forte onda antibolsonarista para que retornemos ao que éramos, ou talvez para que nos tornemos melhor do que éramos, garantindo que um político como esse jamais seja eleito novamente.

A queda de Bolsonaro ou sua reeleição não será suficiente para que nossa paz seja garantida. Infelizmente, isso dependerá do apoio e trabalho duro de todos nós.

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