Esse é para você que também se sente perdido nessa era produtiva
Texto por: Jorge Hilário
O excesso de produção vai acabar com a humanidade – e não estamos prontos para isso.
São tempos difíceis. É fácil você tatear a presente situação quando perceber o que estão vivendo atualmente: as pessoas são bombardeadas com conteúdo extremamente prazeroso produzidos na internet: pessoas levantando cedo para correr, caminhando com os seus animais, tomando sol, pegando uma piscina, trabalhando – além da conta, mas sempre com uma foto da mesa arrumada, cheia de canetas coloridas, enquanto você observa a situação com o cabelo para o alto, uma roupa suja de pasta de dente da noite passada, uma bermuda surrada e chinelo. A imagem de satisfação da comunidade quase destrói o seu ser e você começa a se questionar:
- Por que não estou funcionando de acordo com a produção da massa? Será que preciso de tratamento? Será que não estou inserido nesse vasto mundo da mídia? Por que o vizinho está comemorando? Será que o covid passou de vez? –
Em meio de tantas perguntas e produtividade você começa a se afogar no tormento que é ser uma pessoa pacata em plena pandemia. A vida vai passando, a doença não cura, a tristeza logo se torna amargura, você começa a ter mais opinião sobre tudo e menos disposição para ouvir o outro. Em compensação, a disposição para uma guerra é alta, de tal modo que qualquer roda de conversa termina em gritos, ao invés de um brinde ao fato de que cada um tem a sua opinião – e está tudo bem –, porque é assim que pessoas civilizadas terminam uma discussão.
Os dias continuam passando e você deixa de ter um toque carinhoso consigo, deixa de cuidar da aparência – afinal de contas, vou me arrumar para quem? – e nesse instante o seu descaso demonstra preocupação entre as pessoas, elas começam a comentar ao seu redor como se não pudessem ser ouvidas e te tratam como se você fizesse parte de um passado: – você viu o fulano de tal? Era tão lindo, tão cuidadoso, se perdeu na vida. –, mas elas se recusam a bater na sua porta e oferecer sequer um pão seco, mas pegam o tercinho e prometem lembrar de você em suas orações.
Está tudo cronometrado, vocês estão vivendo a era digital, a era da informação, mas é tanta informação que até as atividades mais simples como por exemplo fazer coco é anunciada. São tempos difíceis para as pessoas que procuram algo além do filtro bonito daquela rede social.
São tempos difíceis para você que não está produzindo, que está se deixando levar pela vida, para você que não tem forças para levantar, caminhar no sol e – muito importante, claro – postar uma foto com um sorriso meia boca. São tempos difíceis sim, mas acredite e aposte no seu processo, você não teve um dia improdutivo, talvez teve algumas horas, mas não o dia inteiro.
– A vida não é fácil, levanta o astral, sacode a poeira e vamos bora para a luta, você é guerreiro (a) e o seu sucesso depende APENAS de VOCÊ! – Publicou em suas redes sociais Jadson Picaretto, influencer digital que desde os 15 anos adquiriu a sua independência financeira.
O presente texto “seria cômico se não fosse trágico”.
Jorge Rafael Hilário Rodrigues, advogado inscrito na OAB/MG sob o número 184.339, especialista em direito e processo penal, formado pela FDCL - Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete. Sobrevivente de um mundo caótico e cada vez mais imerso em futilidade, mas que procura encontrar a felicidade em tempos sombrios e utiliza da escrita para esvaziar os sentimentos ruins.
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